Aeróbicos intervalados x Queima de gordura

Porque aeróbicos intervalados não são a melhor escolha para a queima de gordura
Por MRJP

A ciência dos aeróbicos intervalados (Guerrilla Cardio, HIIT, tiros e etc) consiste em trabalhos alternando entre alta e baixa intensidade. Normalmente realiza-se picos de explosão (tiros) durante curto período de tempo e depois a chamada pausa ativa (trote ou uma corrida mais leve) durante um tempo um pouco maior, repetindo esse ciclo durante um tempo pré-determinado. Para entender o porque disso, vamos começar a falar de bioquímica e fisiologia.
Em condições de repouso, nosso corpo utiliza como energia 70-80% de gordura e 20-30% de açúcares. Muitos devem estar confusos com isso, mas é o que realmente ocorre porém, pelo repouso ser regido por um metabolismo baixo, essa queima não é significativa. Quando inicia-se a atividade física ocorre quebra da homeostase e alternância entre a utilização dos substratos. Abaixo o ciclo de Krebs e as vias responsáveis pelo fornecimento de energia.

Via do ciclo de Lynen (vermelho), dos aminoácidos (verde) e da glicólise (azul).
Como visto acima, gorduras, carboidratos e proteínas fornecem substrato as diversas reações do ciclo de Krebs e no final acabam gerando ATP, a energia do organismo humano. A quebra do ATP em ADP fornecem fosfato de alta energia para as atividades orgânicas e esse ADP é reconstituído em ATP pela ação da creatina fosfato (metabolismo aláctico) ou através da glicólise, denominado de metabolismo anaeróbico (láctico). Abaixo, o gráfico comparativo entre a utilização de substrato em diversas sistuações.

Observe a alternância entre o uso de substratos, que passa de predominantemente aeróbico para anaeróbico.
Conforme o corpo é submetido a diferentes estímulos, o metabolismo responde de formas diferentes, como observado acima. Quanto maior o predomínio do metabolismo anaeróbico (atividades mais pesadas), maior a quantidade de ácido láctico produzido. O corpo possui diversas formas de remover esse produto da musculatura, são eles: 1) através de secreção e excreções como suor e urina; 2) metabolismo hepático, como substrato para a neoglicogênese; 3) pulmão, através de uma complexa cadeia de reações de tamponamento que acabam resultando em gás carbônico; e 4) na musculatura, como substrato para reações oxidativas. Quanto mais treinado o atleta, maior a sua capacidade de remover lactato, o que propicia uma maior capacidade atlética. O acúmulo de ácido láctico na musculatura promove fadiga e dor através, principalmente, da queda de pH, que age sobre as terminações algésicas.

A primeira reação representa o tamponamento do lactato pelo bicarbonato de sódio e a segunda a transformação do ácido carbônico em gás carbônico e água.
Como visto acima, o gás carbônico produzido, indiretamente, pelo metabolismo do ácido láctico age sobre os centros respiratórios do bulbo, que são extremamente sensíveis a hipercapnia (aumento da quantidade de gás carbônico), promevendo estímulo a musculatura respiratório e consequente hiperventilação, para eliminar o acúmulo desse gás tóxico. Logo, resumindo, o aumento da produção de ácido láctico, por aumento do metabolismo anaeróbico, promove hiperventilação para eliminar o CO2. A medição dessas taxas, pela ergoespirometria, nos permite determinar os limiares aeróbicos.

Limiares aeróbicos. VE: ventilação; VO2: volume de oxigênio; VCO2: volume de gás carbônico; LA: limiar aeróbico.
A figura acima deve ser interpretada da seguinte forma. Até a primeira linha preta (LA1) a VE equivale a VO2 logo, o que o atleta esta ventilando serve para o consumo de oxigênio para o trabalho exercido. A partir da primeira linha, a VE perde a linearidade com a VO2 e se alinha com a VCO2. Isso deve ser entendido como um aumento da ventilação, sem um consequente aumento do consumo de oxigênio, com o objetivo de eliminar o CO2. A partir desse linha, o atleta começa a entrar no metabolismo anaeróbico. A partir da segunda linha preta, o VCO2 cresce muito, e a VE ja não é suficiente para a sua eliminação. Desse momento em diante, o atleta esta prestes a entrar em fadiga, ja que o ácido láctico esta se acumulando na musculatura.
O aeróbico intervalado trabalho em cima de todo esse mecanismo citado acima. Durante os picos de frequência cardíaca (alta intensidade) a musculatura tem como predomínio o trabalho pesado, com consequente metabolismo anaeróbico e produção de ácido láctico. A queda da frequência cardíaca (baixa intensidade) que vem a seguir tem como predomínio o trabalho leve ou muito leve, com consequente metabolismo aeróbico. Durante esse período, o corpo passa a remover o ácido láctico da musculatura e desvia-lo para o ciclo de Krebs. De modo resumido, no aeróbico intervalado, o que é produzido durante a alta intensidade, é consumido na baixa intensidade e utilizado para fornecer energia para o próximo pico. Esse mecanismo é limitado e a partir de determinado momento passa a não funcionar mais, com o atleta entrando em fadiga.

Demonstração da frequência cardíaca durante um trabalho intervalado.
A drepresentação acima demonstra os picos e quedas de frequência cardíaca durante um trabalho aeróbico intervalado. Observe que a partir de um momento, a FC não cai nos níveis mais baixos e começa a cada vez cair menos. Isso ocorre devido o aumento do trabalho cardíaco com objetivo de remover o lactato acumulado na musculatura, que com o passar do tempo é cada vez maior.
Finalmente, vamos entender porque esse trabalho não é o melhor para a queima de gordura. Como expliquei acima, o objetivo desse trabalho é que o lactato produzido seja utilizado, durante o momento de baixa intensidade, como substrato do ciclo de Krebs, fornecendo energia para o próximo pico de intensidade. Dessa forma, o ácido láctico toma o lugar da gordura como substrato para oxidação. Isso é bom para quem busca performance e condicionamento, mas não para quem procura a lipólise. Para a gordura começar a funcionar como substrato durante um trabalho intervalado, leverá um tempo muito maior e isso não é preconizado por esse tipo de protocolo.
Como resumo, defendo a utilização dos aeróbicos contínuos quando objetiva-se a queima de gordura. O uso dos aeróbicos intervalados tem a sua valia quanto o objetivo é performance e condicionamento físico. Vale comentar que os trabalhos que se utilizam de tiros, podem promover um aumento da massa magra e consequente aumento do metabolismo basal. Isso, indiretamente, promove a queima de massa gorda.

Abraços!!

 

 

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